Arte Ocupação (2016-18)

Esfera Pública, Prática Modal, Projetos
CEPPAM, 2016.

Arte Ocupação (2016-18) é uma proposição de Milla Jung realizada em colaboração com artistas, ativistas, professores e alunos das escolas ocupadas no Paraná em 2016, que por meio de intervenções diretas, realizou oficinas, ações, relatos, debates, roteiros, entrevistas, traduções de textos, reuniões e finalmente produziu trabalhos, audiovisuais e sonoros, constituindo uma rede de ações/situações que problematizam a experiência desse agrupamento voluntário que foram as ocupações secundaristas e universitárias no Brasil, em 2016.

#Oficinas:

Documentação oficina no o Colégio Estadual Professor Algacyr Munhoz Maeder



Imagin(Ação): narrativas poético-políticas para estados de crise: atelier-oficina para manifestações-exposições-ópera

A Proposta destas oficinas surgiu com o propósito de ampliar a imaginação poética como recurso de ativismo político. A finalidade de ministrá-las nas escolas ocupadas era dispor referências e ferramentas da teoria e da prática da arte aos estudantes para montarmos uma exposição/manifestação que conferisse às ocupações sua verdadeira face estética, que não aquela submetida aos desígnios midiáticos. Como referências fundantes, percorremos os movimentos político-sociais e antiglobalização na Europa e os movimentos de resistência à Ditadura na América Latina, apresentando alguns expoentes como as festas de rua do Reclaim the Streets, os projetos imagéticos e estratégicos contra-midiáticos do Las Agencias, as sátiras táticas dos Book Blocks e dos Pink Blocks, o movimento Disobediency, as manifestações inventivas dos italianos Tute Bianche, as estratégias de inversão do EZLN (Neo-Zapatistas), o humor poético do Poesia Viva, de Paulo Bruscky, o tocante Divisor de Lygia Pape, a suspensão causada pelo El Siluetazo e a força dos Escraches na Argentina.

# PROPOSIÇÕES:

A Revolução Francesa


Instalação multimídia, 6’32”. Ficha técnica: aula, texto e atuação de Professor Gasparetto, captação de imagem Felipe Prando e edição de vídeo de Vivaldo Vieira Neto.

Em A Revolução Francesa a voz é  o que escapa e serve como laço entre desejo-ação e mundo. Professor Gasparetto, encenando a si mesmo, engaja o corpo numa toma da palavra, como coloca Zumthor, esta uma “necessidade vital de revanche” (ZUMTHOR, 2009). Num não querer estar só com aquilo que pulsa, ou num querer transmitir aquilo que sabe que sabe.

Colar de chaves

Atuação de Greyce Santos, texto de Milla Jung, captação de imagem Felipe Prando e edição de vídeo de Vivaldo Vieira Neto.

Em Colar de chaves, Bruna e Greyce do Ocupa DEARTES tomam para si a chave da ação no mundo. Um reconhecer-se como parte da comunidade, como engrenagem ética de algo maior, como responsáveis pelo destino daquela comunidade. Possuir as chaves da universidade cria um ponto de inflexão que gira a posição dos alunos de reativa, que produziria repetição e homogeneidade, para uma posição ativa, que produz diferenças, recuperando para uso próprio a potência desejo. Um colar- inflexão, que assim como os parangolés de Oiticica, é um objeto a ser incorporado ao corpo, e o corpo ao objeto.

Mato

Vídeo em tela plana de TV com fone de ouvido, 3’46”, 2018. Atuação de Ana Júlia Ribeiro e cenas de seu discurso na Assembleia Legislativa do Paraná em outubro de 2016, captação de imagem Felipe Prando e edição de vídeo de Rafael Bertelli.

Em Mato a potência do desejo tremula, estremece, enfurece, exaspera, em humores para a explanação do papel da dimensão cultural nos processos de individuação psicológica e coletiva. Um nós conquistado por e construído em comunidades improváveis. Ana Júlia Ribeiro (da ocupação da Escola Senador Manuel Alencar Guimarães de Curitiba, que discursou no plenário da Assembleia Legislativa do Paraná em defesa das ocupações secundaristas, em 10/2016) representa uma espécie de erva daninha, erva que insiste em aparecer nos terrenos mais aparentemente estáveis, destituindo a forma dada de sua condição homogênea. É mato na medida em que pode ser pensado como aquilo que, como pontua Henry Miller, só existe entre espaços não cultivados, que preenche os vazios, crescendo entre, no meio de outras coisas: “A flor é bela, o repolho é útil, a papoula enlouquece. Mas o mato é transbordante, é uma lição de moral” (JACQUES BERESTEIN, 2011). Assim, Ana Júlia aparece com uma força que nasce dos subterrâneos e que convoca uma nova dinâmica para as coisas dadas, corpo-vibrátil (ROLNIK, 2007) em estado nascente.

Jogral

Jogral é uma proposição sonora, realizada no dia 1º de abril de 2017 no pátio e no auditório da Reitoria da UFPR, por cerca de 30 pessoas que tinham estado direta ou indiretamente envolvidas com as ocupações no Paraná.

É baseado em três fontes diferentes: o jogral falado pelos alunos que ocuparam o Núcleo Regional de Educação em Curitiba (no dia 31/10/2016, em reação à determinação da justiça de reintegração de posse e desocupação de 25 escolas estaduais), um trecho do poema Primeira manhã de As Quatro Manhãs (1915-1945) do artista e poeta português Almada Negreiros e alguns trechos do Manifesto Anarquista do grupo Tiqqun – Orgão Consciente do País Imaginário[i].

Proposição Sonora, 9’45”. Ficha técnica: Participação aberta e coletiva, com as vozes principais de Ricardo Corona, Guillherme Jaccon, Lena de Helena e Giorgia Prattes. Captação de áudio Felipe Prando, edição sonora de Diego Nunes e edição de vídeo de Vivaldo Vieira Neto. Participantes do jogral: Lena de Helena, Lídia Sanae Ueta, Débora Santiago, Fábio Pereira, Aline Moraes, Giorgia Prates, Célia Cardoso, Magda Zani Silva, Walter Gibson, Lyah Dannemann, Edílson Cordeiro, Maria Inês Cavichiolli, Carolina Prando, Janaína Matter, Eleine Spinelli, Stephanie Freitas, Eliana Borges, Patrícia Del Claro, Alexandre Macedo, Leonardo Auchnitz, Greyce Santos, Ricardo Corona, Guilherme Jaccon, Luana Navarro e Felipe Prando.

[i] Tiqqun (palavra hebraica que significa redenção) é um coletivo francês de ativistas insurgentes (composto por intelectuais anônimos) que surgiu em 1999 a partir da publicação de textos e revistas dedicados aos “exercícios de metafísica crítica”, nos quais o argumento central era “recriar as condições para uma comunidade outra”, dado que o sistema neoliberal só tem a oferecer ao humano seu esgotamento. Suas principais publicações tem como subtítulos: Órgão Consciente do Partido Imaginário / Exercícios de Metafísica Crítica e Órgão de ligação no seio do Partido Imaginário / Zona de Opacidade Ofensiva. Considerados terroristas pelo governo Francês pelo teor revolucionário, anarquista, esquerdista e comunista de seus textos, o grupo dissolveu-se em 2001 após os atentados ao World Trade Center. O diagrama Como fazer? foi escrito para ser publicado na Itália, na primavera de 2001 e foi somente recentemente traduzido para o português pelos artistas: Fabio Tremonte, Fernando Scheibe e Kamilla Nunes, em Florianópolis e São Paulo em dezembro de 2016. 

Corpos que se descobrem como corpos que se manifestam

Instalação em vídeo, 4’17”.
Ficha técnica: Texto de Milla Jung, com trechos do livro Homens e não de Elio Vittorini, música Primeira Infância dos Tribalistas, voz de Glaucia Andrea Domingos, captação de áudio de Felipe Prando e edição de Vivaldo Vieira Neto.


# TESE:

Tese defendida no PPGAV/ECA/USP em setembro de 2018, sob orientação de Ana Maria Tavares, na linha de pesquisa de poéticas.

RESUMO

JUNG, Ana Emília. Arte Ocupação: práticas artísticas e a invenção de modos de organização. 2018. Tese (Doutorado em Artes Visuais) – Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.

Esta tese é uma pesquisa em Poéticas Visuais que tem como ponto de partida o Arte Ocupação — movimento de ações colaborativas nas escolas ocupadas no Paraná em 2016, que, por meio de intervenções diretas, gerou uma série de situações e proposições, as quais refletem e afirmam a condição-ocupação como dispositivo relacional, ao mesmo tempo que interpelam o campo da arte sugerindo um território de desbordes com imagens por vir. Partindo de um referencial conceitual baseado nas ideias do artista, pensador, político e ativista Marcelo Expósito, para quem a arte deve ser articulada por meio de uma função organizadora, buscou-se uma contextualização circunstancial, que, somada a outras interlocuções artísticas e teóricas sobre arte, política, imagem e esfera pública, é indicada aqui como “prática modal”. Ainda como parte desta, transcreveu-se e traduziu-se para o português a apresentação El arte como producción de modos de organización, de Marcelo Expósito, traduziu-se o texto Sobre el Militante Investigador do Colectivo Situaciones e analisou-se o processo de trabalho do Arte Ocupação a partir da constituição de seu acervo propositivo, a dizer, a oficina Imagin(Ação): narrativas poético-políticas para estados de crise. Atelier-oficina para manifestações-exposições-ópera e as proposições Corpos que se descobrem como corpos que se manifestam, Colar de Chaves, Mato, A Revolução Francesa e Jogral, que podem ser vistas em www.arteocupacao.com.

A tese pode ser baixada em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27159/tde-04122018-171845/pt-br.php

Palavras-chave: Prática Modal; Imagem e Esfera Pública; Ocupações; Arte e Política.

Coletivo Situaciones, tradução do texto Sobre o Militante investigador: 

http://arteocupacao.com/#situaciones

Marcelo Expósito, transcrição e tradução da apresentação “A arte como a produção de modos de organização”, no Museu de Arte Contemporânea de Castilla y León, MUSAC, em 2014.

http://arteocupacao.com/#traducoes